Hoje é dia de festa!
Por Joan Baixas
Com um gesto resoluto, fechemos os jornais, calemos os noticiários e brindemos à Arte e à Fraternidade, porque hoje é um dia festivo: - nós celebramos o Dia Mundial da Marioneta!
Não podemos esquecer a dor, a penosa realidade de desgraças e calamidades que afligem o mundo mas, precisamente porque não podemos olvidar, comprometemo-nos a celebrar a dignidade humana, o zelo insaciável dos Homens para glorificar a Vida, apesar das desgraças e da morte.
A Arte é um hino a esta dignidade e reúne, pela poesia, numa corrente contínua, as gerações passadas e futuras, os clãs e as culturas.
A Arte estabelece uma cumplicidade de olhares entre as pessoas que se deslumbram em conjunto, os criadores e os espectadores, na exploração do desconhecido.
Todo o acto artístico representa apenas um grão de areia interferindo na engrenagem da realidade.
A Arte da Marioneta tende para esses objetivos a passos acelerados. Sempre que damos vida a um personagem, nós proclamamos uma declaração de independência.
Filha rebelde das Artes da Imagem da Palavra, da Interpretação e da Narrativa, a Marioneta reforça o compromisso com a Inocência, lugar de felicidade, e convoca por igual o outro extremo, a Crueldade.
A Inocência é importante, é harmoniosa e fecunda, como evidenciado por Jarry e Kurosawa, Miró, Arseniev e muitos outros.
Á Crueldade, é necessário tomar-lhe bem as medidas e enfrentá-la olhos nos olhos com o sarcasmo.
'' O animal vive na natureza como a água na água'' (Mircea Eliade). A Marioneta vive no imaginário como a água na água. Território onde a razão delimita os fluxos do reino animal e do reino vegetal, da terra e da água, o Imaginário é a reserva de energia das pessoas e dos povos, onde a Marioneta actua livremente como um rei, sem analisar, sem intervir, e, aí, ela prospera.
'' O signo diferenciador do animal-homem é a representação animada, e a primeira animação que o Homem inventou, foram os deuses. A animação fez de nós pessoas” (P. Sloterdijk).
A nitidez desta reflexão filosófica impregna de mistério o acto fundador do marionetista: dar vida ao inanimado e convocar as pessoas para esta magia.
Há bastantes anos atrás, um punhado de marionetistas teve a feliz ideia de criar uma organização para fortalecer os intercâmbios culturais. Com a UNIMA, já convertida numa realidade consolidada e alargada a todo o mundo, torna-se mais necessário do que nunca, orientar os esforços da profissão para os objetivos da Arte e da Dignidade Humana.
Assim, louvemos também os deuses por nos terem inspirado esta profissão, agradeçamos aos nossos avós por terem criado a UNIMA e celebremos a magnificência da arte do imaginário, erguendo os nossos copos: - à Marioneta!
Amigos, tenhamos uma BELA FESTA!
Susanita Freire- CAL/ UNIMA- Comissão para América Latina de Unima
Nenhum comentário:
Postar um comentário